Irã e EUA realizam troca histórica de prisioneiros

Cinco cidadãos americanos aprisionados no Irã deixaram o país e desembarcaram em Doha, no Catar, nesta segunda-feira (18/07), em uma histórica troca de prisioneiros entre Washington e Teerã. Já o Irã conseguiu como concessão a libertação de cinco iranianos que estavam detidos nos EUA e a transferência de US$ 6 bilhões (R$ 29,2 bilhões) em fundos do país que estavam congelados no exterior no âmbito das sanções impostas por Washington ao regime fundamentalista islâmico do Irã.

"Hoje, cinco americanos inocentes que foram presos no Irã estão finalmente voltando para casa", disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em comunicado, acrescentando que "em breve se reunirão com os seus entes queridos – depois de suportar anos de agonia, incerteza e sofrimento".

Os cinco americanos - um dos quais estava detido há cerca de oito anos no Irã - devem embarcar do Catar, país que intermediou a troca, de volta aos EUA.

No lado iraniano, dois dos cinco prisioneiros iranianos liberados pelos EUA já chegaram a Doha, de onde devem seguir para Teerã. Os outros três também foram liberados, mas informaram que não desejam voltar para a República Islâmica.

Mas o ponto principal das exigências de Teerã para realizar a troca foi mesmo a transferência dos US$ 6 bilhões congelados, que haviam sido originalmente retidos pela Coreia do Sul a pedido dos EUA. Os prisioneiros americanos só foram autorizados a embarcar para a Doha após a conclusão da transferência eletrônica do valor.

O presidente do Banco Central do Irã, Mohamad Reza Farzin, confirmou que a transferência foi realizada e que o país vai levar a Coreia do Sul à justiça por ter bloqueado os fundos.

O equivalente a US$ 5,95 bilhões foi depositado em seis contas iranianas em dois bancos do Catar, afirmou o presidente do BC iraniano. Os recursos, produto da venda de petróleo iraniano à Coreia do Sul, haviam sido bloqueados depois que o governo dos EUA abandonou em 2018 um acordo internacional sobre o programa nuclear de Teerã durante o governo do republicano Donald Trump. A saída de Washington do pacto representou o retorno das sanções financeiras contra o Irã.

Prisioneiros libertados

Entre os americanos liberados está o empresário Siamak Namazi, de 51 anos. Ele foi detido em 2015 e condenado a dez anos de prisão em 2016 por suposta espionagem. A família nega a acusação.

Outros prisioneiros incluídos na troca são o ambientalista Morad Tahbaz, de 67 anos, que também tem cidadania britânica, e o empresário Emad Sharqi, de 59 anos. Os outros dois libertados não tiveram suas identidades divulgadas.

Já as autoridades do regime de Teerã nomearam os cinco iranianos libertados pelos EUA como Mehrdad Moin-Ansari, Kambiz Attar-Kashani, Reza Sarhangpour-Kafrani, Amin Hassanzadeh e Kaveh Afrasiabi. Dois deles foram detidos pelos EUA por acusações de violações das sanções impostas ao Irã. Os três outros, por acusações de ligações com forças de segurança do Irã.

Entre os iranianos libertados, "dois retornarão ao Irã (Merhdad Moein Ansari e Reza Sarhangpour), um viajará para um terceiro país, devido à presença de sua família nesta nação, e os dois últimos permanecerão nos EUA", informou o porta-voz da diplomacia iraniana, Naser Kanani.

Críticas

Anunciada em agosto, a troca foi o resultado de meses de negociações entre Estados Unidos e Irã com a mediação do Catar, país que tem boas relações com as duas partes. Mas a transferência dos US$ 6 bilhões para o Irã atraiu críticas dos opositores republicanos nos EUA, que acusaram o presidente democrata Joe Biden de "pagar um resgate". A Casa Branca defendeu o acordo e afirmou que ele não representa um "cheque em branco".

O governo Biden apontou, que nos termos do acordo, o Irã só poderá usar o dinheiro para a compra de alimentos, remédios e insumos humanitários. Já o porta-voz da diplomacia iraniana afirmou que os recursos permitirão "comprar todos os produtos que não estão sob sanção", e não apenas comida e medicamentos.

Um membro do governo dos EUA disse que o acordo também não mudou a relação adversária de Washington com Teerã. Contudo, também disse que a porta está aberta para negociações sobre o programa nuclear iraniano.

"Se virmos uma oportunidade, iremos explorá-la, mas neste momento não tenho nada sobre o que falar", disse a fonte aos jornalistas, falando sob condição de anonimato.

jps (Reuters, AFP)